Um amigo me perguntou porque o meu blog era tão pessoal.
Pensei seriamente sobre o assunto e resolvi que talvez, simplesmente talvez, outra pessoa tivesse a mesma curiosidade.
John Donne disse:"ninguém é uma ilha", mas eu era.
Passei grande parte da vida interpretando uma personagem muito bem ensaiada, muito segura para enganar a mim e aos outros.
Como um caracol, eu tinha uma casca, mas por dentro me sentia muito mal.
Apesar de conversar muito (tipo faladeira mesmo), ninguém sabia nada sobre mim.
Magoei muitos amigos com palavras inadequadas, em momentos errados, com agressividade. Eu era uma panela de pressão esquecida no fogão.
O que realmente precisava dizer, ficava entalado na garganta como se eu estivesse sendo sufocada.
Em contrapartida, fui sempre discreta e leal com as pessoas. Tornei-me uma antena parabólica que recebia sinais como confidências, decepções, mágoas alegrias; todo tipo de sentimento dos amigos, aconselhava, acolhia repreendia, mas eu não conseguia transmitir os MEUS sinais. Não desabafava.
Então fiquei doente.
Saí do Teatro da Cidade, depois de sete anos, achando que era cansaço pelo horário noturno, que não me permitia ter uma vida social mais flexível. Mas não era cansaço. Era depressão. Muitos anos de depressão.
Muitas pessoas tem vergonha de admitir e outras, preconceito contra os que tem, mas eu não me incomodo.
Esse assunto não faz parte da minha vida social diária, pois sei que muita gente também sofre com "a doença" e não se dá conta e outros tem e se tratam.
É mito imaginar que o deprimido fica em casa vegetando o tempo todo deitado e chorando.
Eu sou um exemplo do contrário. Saía muito, namorava, transava ou seja , fazia tudo que uma pessoa considerada "normal" também faz.
Meus sintomas eram outros. Angústia, sensação de derrota, auto-estima no buraco e agressividade gratuita.
Hoje, vou à terapia uma vez por semana e tomo remédio todos os dias.
Estou curada? Não sei, mas sou mais feliz.
Faço as coisas com mais calma e analiso meus sentimentos e pensamentos com mais racionalidade. Não saio de casa como antes, prefiro a casa de amigos. Ouço música, mas o silêncio é meu melhor companheiro.
Meu humor ainda é cáustico e minha braveza italiana se manisfesta também. Procuro fazer o máximo para não exigir muito de mim. A vida é curta.
Comecei o blog para que eu consiga expressar melhor para mim e quem quiser ler. Meu blog é pessoal? É muito pessoal.
Não cito nomes de pessoas (quando cito, é trocado). Não exponho ninguém, só a mim. Ninguém é obrigado a ler e não divulgo para o mundo. Tudo que escrevo sai da minha cabeça.
É a minha verdade.
Quando faço citações, coloco sempre o nome do autor, pois apesar de invejar alguns escritos, respeito o fato de não serem de minha autoria.
Tudo acima descrito, foi sem tristeza nem auto-piedade.
Espero sinceramente ter dado uma resposta satisfatória ao meu amigo e a outros que porventura estavam curiosos.
Beijo a todos.
De todos os tamanhos.
Há 14 anos