2 de ago. de 2009

MANSOS X BRAVOS


No sermão das Bem-Aventuranças, Jesus diz:
"Bem-aventurados os mansos, pois eles herdarão a terra" (Evangelho de Mateus, capítulo 5, versículo 5).
É gente, não vou herdar nada porque de mansa nem o olho de gato na minha cara.
Venho de uma família de mulheres bravas. Talvez das três, a menos seja a Vanessa, mas é melhor não pisar no calo dela.
Meu pai sofria, com esposa e três filhas em casa. Nenhum menino para ele agradar com carrinhos Matchbox.
Normalmente, na minha vida diária, não sou brava. É preciso uma provocação.
Sou discreta, leal, fiel e nem um pouco curiosa.
Se ninguém quer me contar nada pessoal, eu não pergunto nada e se disser que é segredo, sou capaz de esquecer a conversa.
Não gosto de injustiça e mau caratismo, o resto perdoo. Fofoqueiros de plantão, "lingudos" (palavra que meu sobrinho "pegou" do meu cunhado Juninho para o nosso deleite, ao invés de linguarudos), retardatários, falantes, mudos, não me incomodam.
Se estou em uma mesa e o papo começa a me encher, faço uma cara de landscape e me abstraio totalmente. Fico completamente surda.
Mas se a coisa foge do controle e sobra pra mim, aí não tem perdão. A língua é ferina e o humor é cáustico. Palavrão, só se estiver muiiiiito bêbada senão uso a mais linda "Flor do Lácio". Portugues curto e grosso.
Difícil passar pela minha ira impune. Sou devota de São Jorge Guerreiro e filha de Iansã (Santa Bárbara das tempestades e raios).
Para o Pedro Paulo, mais culto e romântico, sou Sturm Und Drang (Tempestade e Ímpeto).
Mas sou uma irada pré-arrependida. Quase imediatamente após a explosão, já me arrependi e, se no caso, o atacado for amigo (a) do peito, peço desculpas quase imediatamente após o ocorrido.
Mas se não for amigo, o desafeto passa a ser um ser invisível, indiferente, pois não sou rancorosa. Dou a porrada, viro de costas e esqueço o ocorrido.
Na verdade, sou uma mistura de feirante italiano com prima-donna de ópera.
Acontece de eu receber um "escabadá" e ficar quieta na hora, por causa do ambiente ou de quem estiver por perto e não tem nada a ver com a coisa, mas aí a situação piora consideravelmente do que se eu tivesse respondido na "bucha".
Meus amigos (as)já sabem, se eu não responder na hora, o pobre vira desafeto mesmo.
Sem raiva, sem ódio, mas uma indiferença gélida. E detesto aquele ditado babaca (dou um boi para não entrar em uma briga, e uma boiada para não sair). Coisa de ignorante.
Ah! Como invejo os mansos!
Não ficam com dor de estômago, não enrubescem, não balançam os braços de um lado para outro.
Mas cada um tem suas armas para se defenderem na vida.

- Existem os mansos bons, mansos mesmo. Recebem o tapa na cara e vão para casa chorar. Não se defendem.
- Existem os mansos fingidos. Se mostram compreensíveis, condescendentes e querem te deixar com culpa. São a pior espécie de mansos, os dissimulados. Conheço alguns.
- Existem os mansos sonsos. Fingem que não é com eles.

- Existem os bravos por impulso. Se arrependem, ficam com dor de estômago, pedem desculpas e vão a terapia.
- Existem os bravos cretinos. São maus e fazem para ferir, ver o outro sofrer.
- Por fim, os bravos malucos. Atacam e depois esquecem. Não se lembram de jeito nenhum.

É como eu disse antes. Cada um usa suas armas, pois como observou Guimarães Rosa, "viver é muito perigoso".